Etiam placerat

usarei este blog para postar pequenas estórias de alguns personagens de um livro que estou escrevendo: o enigma da imortalidade.
em suma, esse livro é sobre uma mulher que é imortal e que está contando sua experiência para um escritor.
cada um desses personagens entrará em contato com essa mulher e suas estórias no blog acabarão quando eles cruzarem o caminho dela.
assim sendo, para continuar a ver as estórias desses personagens deve-se ler o livro que ainda estou escrevendo.

fique atento se gostar des estórias: postarei em partes duas vezes por semana.

Encuesta

Emanuel

O anjo da morte o perseguia e por mais que ele corresse parecia estar andando para trás.
- Pare aí Emanuel, pois longe do significado que seu nome tem tu estás.
- O que fiz eu para merecer a morte?
- E pensas, caro amigo, que vim aqui para te matar?
- Isso seria um desperdício, poucos nesse mundo são tão amigáveis para comigo.
- Eu me sinto amado perto de ti Emanuel!
- Eu te odeio, fique longe de mim!
- Não resista, negar-se a si mesmo não é uma forma feliz de se viver. e eu te digo, amigo, que Deus lhe quer feliz.
- Fico mais feliz morto do que dando ouvido a você!
- Sabes bem que nós somos um e que não há nenhum anjo da morte.mais cedo ou mais tarde seremos carne da mesma carne e tu saberá teu destino.

O galo cantou, o sol ainda não nasceu mas já é hora de se preparar para, assim que a igreja for aberta pelo noviço, rezar.

Emanuel fitou o próprio rosto e viu uma pequena mancha de sangue em sua testa.era o sangue de uma vaca.mas não de uma vaca qualquer.era o sangue que o fazia se sentir vivo.

- Saia desta casa satanás, pois aqui é morada de Deus!
- Não permito tua presença aqui, saia imediatamente!

Floripes, uma das freiras, estava olhando-o do lado de fora e Deus sabe o que ela fazia fora tão cedo.

Ela tentou esconder-se e observá-lo mas ele a viu. viu em seus olhos que ela o considerava um louco, que sentia ser ele a cópia de seu pai.

- Você pensa que sou atormentado pelo sangue de meu pai, mulher?
- Vamos! Responda-me!

Floripes voltou-se para trás com medo e andou rápido para dentro da igreja pela entrada de trás.

- É isso que queres não é demônio?
- Que pensem que sou louco!
- Já que estás em meu corpo vou mostrar-lhe como posso ser louco!

Emanuel pegou a vara que usava para açoitar os cavalos e tirou a camisa.

- Grite agora, demônio covarde, abra sua aboca agora!

bateu com força nas costas, seus braços eram fortes e saiu um pouco de pele com o impacto.

- Você sente, demônio!?
- Sente a minha dor?

E ficou lá batendo-se até o sol se mostrar.

- Isso!Tu não podes comigo quando Deus manda o sol. vá covarde, esconder-se que eu me refugiarei nos braços do pai!

Ele vestiu-se e a camisa eu ficava em contato direto com a pele ficou suja com o pouco sangue que escorria por suas costas já to marcadas.

A igreja era visível de sua casa mas devia estar a um quilômetro de distância e o caminho que ele percorria todos os dias já estava como terra batida apesar de só ele pisar.

Emanuel era um gigante, e, assim sendo, acabava assustando as pessoas, sobretudo as crianças que tanto o agradavam.
Elas corriam tão despreocupadas...
Era como ele queria ser:sem ter que ser temido, sem ter que ser atormentado.
Queria somente correr pelos campos, fazer alguma brincadeira e sentir a alegria daquela tão doce loucura que era a infância.
No caminho ele lembrava-se de um dia em especial de sua infância...

- Vamos Emanuel, venha e vou te mostrar o que é viver!
- Já vou pai, o senhor tem pernas grandes e não posso acompanhá-lo!
- Vê, meu filho, aquela ovelha?
- Comprei-a para ensinar-te a arte que vive em nosso sangue.a arte da dor.

Emanuel só queria fazer seu pai orgulhoso, pois era tudo o que ele tinha no mundo e sua mãe havia morrido do parto.
Isso segundo seu pai, pois ele chegou em santa ágata já com Emanuel andando e nunca quis falar para ninguém sobre suas origens.nem mesmo para Emanuel.

- Olha bem, Emanuel, para o rosto dessa ovelha.
- Olha o sofrimento dela.

Emanuel derramou uma lágrima ao ver seu pai cortar fora uma das orelhas da ovelha.

- Porque fazes isso, pai, o que a ovelha fez?
- Nasceu, filho, e isso já basta.
- Tenta também você.

Emanuel empunhou a faca com naturalidade apesar de nunca ter posto uma na mão.

- Pegaste perfeitamente, filho, até que enfim Deus me mandou um com talento!

A ovelha se debatia tentando livrar-se das cordas enquanto Emanuel se aproximava sem emitir um som sequer, sorrateiro como um tigre.

- Não sentes ela te convidar para que a mate?
- Mas agora, meu filho, te ensinarei algo que tu não conheces.
- Antes de matá-la e provar um dos grandes prazeres do nosso sangue vou ensiná-lo a fazer isso bem feito.

Emanuel estava hipnotizado e nunca soube se era pela autoridade do pai ou da vontade inerente de matar.

- Corte com calma, Emanuel, temos toda a noite.

Emanuel abriu a boca da ovelha que lutava para mantê-la fechada e colocou a faca dentro.

Fez carinho na cabeça do animal e foi acalmando-o enquanto seu pai assumiu uma postura curiosa e quase decepcionada.
Repentinamente ele puxou a faca e cortou um pedaço da língua da ovelha que ficou desesperada.

- Pega, pai, esse é meu presente para ti.

Emanuel sorriu radiante ao ver que seu pai se orgulhara de sua frieza e de como cortara a língua da ovelha.
A igreja chegou e sua lembrança foi interrompida pelo noviço augusto desejando bom dia com um olhar meio desconfiado igual ao de todos na vila.
A igreja estava aberta mas Augusto estava pegando água e as freiras estavam cada uma exercendo suas funções.
Um outro camponês devoto chegou depois e tinha a altura de Emanuel de joelhos

- Eu, com o teu tamanho, alcançaria os céus! Disse o camponês tentando ser amigável

Emanuel não deu atenção e continuou suas preces apesar de essa frase significar muito para ele pois ninguém lhe dirigia a palavra.Deus era mais importante e Deus o protegia do diabo.ele não podia mais baixar a guarda e voltar a sorrir, isso já tinha custado uma vaca para Matias, seu único amigo.

Finalmente o padre chegou.

ler Antônio parte 1

Depois de rezar por toda a manhã, Emanuel saiu da igreja e foi andando vagarosamente para a igreja fugindo das lembranças do pai usando o nome de Deus.

Alguém atirou uma flecha, será que finalmente Matias estaria ensinando seu irmão a atirar?

O arco estava guardado já a uma semana para ítalo e já era hora de dar-lhe o presente.

Ler Matias parte 1.


Parte 2

- Vem comer conosco, Emanuel, Stela está a preparar um lanche apetitoso.disse Matias
- Não se preocupe, Matias, da fortuna de meu pai ainda tenho muito e comprarei algo já pronto para comer. Tenho muito trabalho para fazer esta tarde aqui em casa e tenho certeza que seus funcionários não pensariam bem de ti se me recebesses assim em tua casa.
- Se preferes comer sozinho e rápido que assim seja.só não penses que eu me importo com o que pensam meus funcionários de mim e que tenho vergonha de ser teu amigo.
- Venha comer conosco ou eu atiro em você! Disse ítalo puxando a corda do arco e sorrindo.
- Se atirares farás um furo em minha barriga e a comida que eu comer sairá da minha barriga.peço clemência senhor arqueiro.
- Pare, ítalo, de incomodar o homem, vamos logo que Stela já nos chama.

Os dois foram andando pelo caminho de terra batida até o povoado.
Logo que eles saíram chegou o mesmo aldeão que o elogiara a altura na igreja lhe trazendo uma vasilha com carne cozida.sem trocarem nenhuma palavra o aldeão lhe deu a vasilha, pegou as moedas de prata, e se retirou.
Ele comeu rápido como sempre fazia e saiu para buscar madeira na floresta.

Emanuel queria deixar seu legado: ele não tinha filhos e dificilmente alguma mulher o quereria.além disso, nenhuma família do povoado permitiria que uma filha se casasse com o filho do assassino.
Ele queria, instintivamente, deixar seu ensinamento de morte, de assassínio, de dor...
Ítalo era a única criança que, a partir de hoje, entraria em contato com ele e isso lhe pareceu sensacional: foi como ter ganhado um filho.
Matias, provavelmente, iria querer o irmão estudando mas ele trabalha no campo e não tem condições de monitorar as ações do garoto e eu posso ensiná-lo a caçar.
Ele passou o resto da tarde fazendo flechas e, em alguns momentos falava sozinho como quem deixa um pensamento sair alto demais:

- Sim!
- Perfeito!

Não havia como contar tantas flechas e ele as foi escondendo pois tinha a impressão de que alguém, de algum lugar o observava.
Começou a escurecer e Emanuel voltou para a igreja a fim de rezar.
Como aquele caminho lhe trazia lembranças.sua mente retornou ao mesmo dia que ele lembrara pela manhã.

Seu pai engoliu a língua:

- meu estômago agradece. com um filho como tu nenhum homem morre de fome.
O pequeno Emanuel começou a andar em volta da ovelha com um olhar reflexivo e passava a faca sobre a pele dela sem cortar.

- estás com medo de cortá-la, Emanuel?
- estás com medo que eu não a corte, pai?
- isso se incomoda, não é?

O homem caiu nas gargalhadas: realmente tinha caído no truque do garoto.
Emanuel cortou a pela da ovelha devagar, só na superfície da pele e colocou sua mão na parte interior ignorando totalmente os berros e movimentos bruscos.
Ele abria e fechava as mãos dentro da ovelha desesperada e isso parecia, lentamente, o empolgar.
Ele fitou sua mão e foi fazendo vários pequenos cortes pelo corpo do animal e parecia ir se possuindo por uma espécie de força oculta mas ainda resistia e continuava a sorrir cortando-a e fazendo carícias.

- dá-me um punhal menor, pai.
- sim, esse aí mesmo, perfeito.

Ele foi abrindo a boca lentamente soltando um suspiro e então deu um passo para trás.
O pai olhava curioso para saber quais eram as intenções do menino, estaria ele suspirando de remorso?
Ele retraiu os lábios deixando os dentre amostra, fez uma expressão furiosa com as sombrancelhas e gritou pulando na ovelha.
Começou a apunhalá-la e gritva a cada perfuração como se sentisse prazer a cada buraco feito na carne do animal.
Apunhalava-o co tanta fúria que nem ouviu o pai dizendo que queria um pouco para si.
Mas seu pai não queria mesmo ser ouvido, estava orgulhoso do filho.
A ovelha caiu e ele sentou-se sobre ela com as pernas abertas, dessa vez não só perfurando mas também fazendo cortes profundos no animal que exibia já pouca resposta aos estímulos.

- Maldito animal fraco!

Desferiu um ataque no pescoço do animal e levantou-se logo se jogando de costas no chão de braços abertos e sorrindo.

- Eu na tua idade só matava coelhos, filho!
- Eis aí o que uma boa educação pode fazer para o auxílio do nosso desenvolvimento!
- Demônio!, demônio!

Eram os aldeões que viram o menino matando o animal.

- É o demônio querendo corromper o pobre menino.
- Morte ao demônio!
- Morte!

Emanuel olhava curioso e meio maldoso para os aldeões que o “protegiam” de seu pai colocando-se entre os dois com pedaços de madeira na mão.
Ainda há esperança para o menino, quanto ao pai, queimem! Disse Antônio seguido por um brado dos aldeões.

- quem aqui é homem para me prender?
- rende-te ou enfrenta-me!
- então és tu, José, o louco?
- tu morrerás! Disse José gritando.
- afastem-se todos. Disse José empunhando sua espada de dois gumes.
- afinal, qual é o seu nome?
- O meu nome é o que você quiser.eu nunca me chamo a mim mesmo e para mim mesmo não tenho nenhum nome!
- demônio, hoje encontrarás teu fim!

Os dois homens começaram a lutar e todos temiam por José por ele ser muito menor do que seu oponente.
De repente, depois de esquivar-se de um golpe de gigante, José perfurou sua barriga rapidamente e logo tirou de lá sua espada se defendendo de outro ataque.

- acabe com o meu sofrimento, disse o gigante deitado no chão.

José se aproximou com um punhal para feri-lo no coração e ele o surpreendeu com uma segunda espada perfurando-lhe a barriga.
Os dois caíram e os aldeões logo tentaram socorrer seu moribundo senhor sem sucesso.
O menino Matias foi trazido pelo padre. Só tinha 4 anos anos.

- O senhor caiu, pai?

José morreu deixando uma lagrima no rosto.

- O senhor não pode dormir quando cai e se machuca, tem que fazer um curativo!
- Acorde pai! Acorde!
- Os aldeões choravam pela inocência do menino e diziam o mesmo no seu coração.

O gigante não estava morto, apesar do ferimento igualmente grave.

-Queimem o demônio assassíno!

Ele chegou na igreja e rezou até ficar tarde e depois foi-se para casa deitando-se cedo e esperando ansioso o dia seguinte.

1 comentários:

Luciana Rodrigues Vasconcellos disse...

Continue escrevendo seu livro me parece bastante interessante.